
Empenho em aprender
Muitas vezes, a dançarina da dança do ventre se pergunta: Como consigo ser uma boa dançarina? Haqia Hassam diz: “Para ser uma boa bailarina, basta ter um bom coração.”
Na verdade, o coração é a boa alma, a dedicação, o aceitar ser corrigida e treinada, a humildade, o não se comparar com as colegas e sentir felicidade com o sucesso delas. Tudo isso para mim formam o conjunto ideal da ‘boa dançarina da dança do ventre. ’
Eu sempre exalto as dançarinas da dança do ventre que dedicam seu tempo em treinos, e treinam noite afora e o dia todo e chegam às aulas exaustas mas mesmo assim com um rendimento impecável. Outras, nem treinam tanto, mas possuem aquele talento raro de reproduzir com perfeição os movimentos e assim tornam sua dança irretocável.
Expressão, aquilo que não se ensina
Agora, o algo mais importante, que infelizmente não se vende e nem se ensina, é a expressão.
Fator fundamental na boa bailarina é expressar com seu corpo um sentimento, levar a emoção ao público. Isto vem como conseqüência do sentir, com a segurança em cena, com a certeza de estar fazendo um bom trabalho, uma boa dança.
A dançarina de dança do ventre expressiva consegue transmitir o que quer que seja, em humores diversos, com apenas um olhar, um sorriso, um gesto em seu corpo, com a ponta dos pés, com uma pose de efeito.
Escrever um artigo sobre expressão é uma ousadia. Como colocar em palavras algo que só existe, e de maneira diferenciada, em cada um e que surge primeiro internamente e depois, externamente?
Vamos tentar identificar os elementos que propiciam o surgimento da expressão na dança do ventre e assim cada bailarina poderá fazer uso desses elementos incorporando-os a sua dança do ventre.
Se exprimindo com o corpo todo.
Em primeiro lugar é importante deixar claro que a expressão do rosto não é o único fator fundamental para uma dança do ventre de qualidade.
De nada adianta uma técnica lapidada e perfeita, se o rosto e o corpo que dançam não traduzem emoção. E expressão é sinônimo de emoção, na arte.
Para entender, vamos dissociar o velho jargão de que expressão remete apenas à face. Errado. Você pode expressar uma série de mensagens e emoções com todo o seu corpo.
Os olhos, os lábios, os ombros, o tronco, as mãos, e principalmente as palmas das mãos.
A roupa de dança do ventre, das cores e os acessórios, também enviam uma mensagem.
Exercício
1-Pense numa artista:
Pense em um artista que você admira. Observe nas fotos em que ele sempre aparece, identifique a principal característica desse artista.
Certamente irá surgir uma ‘marca’ algo que esse artista tem e que sempre aparece em seus shows e fotos. Ray Charles, meu artista preferido, era cego, usava óculos escuros o tempo todo, mas tinha uma expressão incrível. Reparem em suas fotos: um amplo e largo sorriso. Um jeito de impor os ombros e um andar diferenciado. Ray era especial e sabia disso.
Nat King Cole e sua voz impecável tinha na elegância a sua marca registrada. Maria Bethânia e sua mão para cima, seu olhar vislumbrando o infinito. E assim segue uma sucessão de famosos artistas.
Dina, com a sua expressão de languidez no olhar, suas mãos desenhando um caminho invisível no ar,
Jade El Jabel com
seus olhos de feiticeira e um sorriso que dificilmente surge, mas quando aparece inunda a sala.
Lulu Sabongi é expressiva por inteiro. Isso ninguém pode tirar dela. Lulu tem uma entrega que se reflete desde a maneira como movimenta o cabelo, passando pelas mãos, pelo olhar meio em transe e toda a maneira como seu corpo se movimenta.
2-Observando-se a si mesma para conhecer a mensagem que envia para os outros.
Pensando nesses exemplos, é preciso, antes de tudo, um exercício de auto conhecimento. Faça um laboratório de si mesma. Tarefinha da semana: observar-se.
Primeiro, anote em um caderno, quais os comentários que costuma ouvir, que se referem ao seu corpo ou gestual.
Por exemplo: “como você é delicada” ou “ você é desastrada” ou ainda “você tem um jeitinho de andar...” Anote esses comentários, mas não os conceitue como verdadeiros e imutáveis, Isso é somente para você ter uma idéia da mensagem não verbal que costuma transmitir para as pessoas.
3-Anote suas características gestuais internas e externas, do tipo:
o som do seu riso ou gargalhada, como é? Alto, baixo, sussurrado, exuberante...
sua respiração - lenta, compassada, acelerada, sem ritmo, profunda, curta...
a maneira como você se desloca – passos curtos ou longos, rapidamente, devagar, para onde olha, a postura ao caminhar, como movimenta os braços...
a maneira como você pega objetos – se é delicada, se atrapalha e derruba tudo, se coloca força ou intensidade, se é suave (como segura os talheres,como escreve, como bebe água...)
como se posiciona em diferentes ocasiões – quando se senta, como fica? Como costuma dormir? Quando está parada, conversando, como costuma ficar?
4- peça aos outros que falem de você
Peça para seus pais ou irmãos falarem sobre você (se sorri muito, se fala demais, se é arredia com estranhos) eles são as melhores pessoas para sinalizar, ouça com atenção e não os critique por dizerem o que pensam.
5- Elaborando uma lista de como os outros vem você é como você se percebe.
Este exercício é apropriado para que você se conheça, se observe e selecione diversos itens tanto externos (como as pessoas te vêem) como internos (como você se vê, se percebe). Faça uma lista de ambos e encontre pontos comuns ou divergências, anote qual prefere para si.
Entenda que o olhar do outro muitas vezes não coincide com o nosso olhar. Isso deve ser encarado com leveza, sem crises ou exigências.
Lembre-se: independente do outro, você é única e isso não deve se alterar pela maneira com que os outros nos interpretam.
É aquela história: pergunte para alguém que gosta de mim se eu sou legal, claro, a pessoa dirá que sim. Pergunte a alguém que não suporta você, bem, a opinião será totalmente contrária.
Portanto, tendo anotado esses itens, você pode elaborar um guia gestual para ajudá-la a decifrar e entender suas mensagens e seu comportamento expressivo.
Convocando o seu gestual na dança:
Em seguida, pense em como traduzir isso para a sua dança.
Jade El Jabel disse em entrevista para este site algo simples, mas surpreendente: “A mulher é na dança o que é na vida.” Ela pede para imaginarmos a mulher sorrindo, transando, parindo.
Pense nessas expressões. Não tem como ser menos, disfarçar o que a move. A bailarina expressiva deve ter isso em mente. Ser, por inteiro, em sua dança.
A dançarina da dana do ventre imersa no seu “ser cênico”
O primeiro passo é a entrega, e ela só acontece quando a bailarina está totalmente imersa em seu ‘ser cênico’, ou seja, atenta ao palco, música, platéia.
O “ser cênico” é um termo utilizado didaticamente em Artes Cênicas, especificamente no Teatro, para denominar a diferença entre sua “personalidade cotidiana” e o “ser cênico”, ou seja, “a pessoa que surge quando se coloca no palco”.
O ser cênico jamais nunca é a personalidade da dançarina da dança do ventre no seu cotidiano.
O palco, onde a dançarina da dança do ventre se coloca com o seu “ser cênico” é uma estrutura dinâmica e elaborada que tem por objetivo trazer o imaginário, o mágico e etéreo para a platéia.
Quando estiver no palco, tenha claro em mente que é apenas um momento, assim que sua apresentação de dança do ventre termina, o ser cênico sai de cena.
Pondo em pratica o seu “ser cênico”.
Imagine que a musica da dança do ventre conta uma historia..
Em seguida, imagine que a música sussurra uma história em seus ouvidos.
Você deve reagir as palavras dela com o seu semblante (riso, tristeza, alegria, mistério).
Imagine também que cada gesto seu, é uma história a ser contada para a platéia.
Por exemplo, ao tocar o cabelo, imagine que está embaixo de uma cachoeira, lavando o cabelo.
Ou ao esticar os braços e movimentar levemente a mão, que está tentando tocar alguém que se distancia, ou que chama por alguém. Assim é que começa a expressão no corpo. Reagindo a historia que a musica traz, e contando ao publico o que você ouve/sente.
Lembre-se de que as palmas das mãos é fator essencial para comunicar-se. É através dela que você direciona o seu olhar e faz com que o público olhe para você.
Maria Bethânia, que tem nas mãos sua característica de comunicação mais importante
Sua face também se expressa. A começar, pelo tipo de maquiagem que você utiliza. (leia mais sobre maquiagem aqui). Sorrir é algo que deve ser espontâneo. Não sei o que é pior: não sorrir, ou fingir que sorri. O riso fingido é feio, superficial e causa desconforto para a platéia que assiste.
O que a musica da dança do ventre está contando para você?
Se a musica te contar algo alegre, sorria. Se a musica te contar uma saudade, uma tristeza, não há porque sorrir. Simples assim.
Como ouvir as histórias que a musica conta? Com dois órgãos: ouvidos e coração. Sim, você deve sentir a maneira como seu coração pulsa ao ouvir uma melodia. Faça esse exercício: coloque um rock, dos bons. Depois uma ópera. Depois, uma bossa nova, um samba, um heavy metal. Coloque suas mãos em cima de seu coração enquanto ouve essas musicas e sinta a diferença no pulsar. É assim que, também sua expressão, deve movimentar-se.
O que é expressão dinâmica?
Trata se de exprimir vários tipos de sentimentos um depois do outro;
Expressão é dinâmica, ela não fica ‘congelada’ e sempre igual.
Para aprender a se exprimir dinamicamente, a dançarina da dança do ventre deve sentir as nuances da música e modificar sua expressão na medida em que a musica modifica a sua emoção.
É do compositor erudito Wagner e se chama ‘Tristão e Isolda’ de Wagner é uma musica clássica com varias “tonalidades“ de sentimentos.
Essa música tem várias nuances para estudar expressão, pois ela ‘cria’ em nós uma série de sentimentos, passa pela alegria, tristeza, suspense....é ótima para estudo das flutuações de humor e emoção.
Estimulando a sua emoção com musicas árabes de dança do ventre.
Escute as seguintes três musicas. Elas tem uma gama de nuances que podem estimular sua emoção de maneira completa.
-‘Oyoun’ (do cd Arabesque Dance),
-‘Nadia’ (do cd A Tribute to The Legend Nadia Gamal –Al-Ahram Orchestra) e
-Al-Houriyah “The Fairy” (do cd Jalilah’s vol.6)
.
Ouça primeiro de olhos fechados.
Depois, ouça a musica olhando-se no espelho e fazendo ‘caras e bocas’ conforme escuta, tentando explorar o que a musica te proporciona em termos de emoção.
Em seguida, dance. Sem compromisso.
Elaborando o conteúdo expressivo na dança co ventre.
Todos esses itens são um guia para você elaborar o seu conteúdo expressivo.
Lembre-se de que flutuações de humor, hormônio, tensão pré mestrual podem modificar a sua expressão e até a sua dança. Permita-se ouvir muita musica e treinar muito, para se defender desses contratempos e escorregões emocionais.
A bailarina da dança do ventre expressiva é aquela que sabe separar as suas emoções e adaptar-se as emoções do ‘ser cênico’ na medida em que a musica pede.
Sentir primeiro para expressar-se através da musica da dança do vente depois
Para ter expressão é preciso antes de tudo, sentir. Por isso, solte-se, desprenda-se dos valores, medos e inseguranças e cria o seu ‘ser cênico’ para sentir-se segura e protegida.
Muita musica, muita leveza e dance sem medo de sentir. Permita ser você mesma...
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